quinta-feira, 16 de abril de 2009

Sonho Dourado

Luzes, flashes, gritos, câmeras, gente gritando e chamando! Não me chamando, mas chamando pelas outras pessoas ali em volta, todos aqueles astros Hollywoodianos. Não me chamavam porque não me conheciam. Compreensível. Devia ter sido atriz. Faltou só o talento. Mas quem sabe esse não seja só o começo? Um dia eu posso ser tão grande quanto Spielberg, quem sabe Lucas... Esses grandes de Hollywood... 

Sentia o macio tecido azul do meu vestido contra minha pele. Me sentia feliz. Pode parecer bobo e simplista, mas sempre tinha sonhado que seria indicada para um Oscar um dia. Seria o Oscar de Fotografia ou Direção. Acabou sendo de Fotografia mesmo. Era estranho olhar em volta. Era diferente do que eu imaginava aos 18 anos. Sentados à minha volta não estavam Hugh Jackman, Johnny Depp, Leonardo DiCaprio, Nicole Kidman, Cate Blanchett, Kate Winslet... Com meus 43 anos sentava em meio a grandes estrelas de 25, 30 anos de idade, estrelas que mal tinham nascido quando eu começava minha “carreira cinematográfica”, no primeiro ano de faculdade, e com ela surgiam meus sonhos absurdos de concorrer a um Oscar. Não eram os meus antigos heróis. As estrelas do “meu tempo” estavam agora com 60, 70, 80 anos. Alguns já nem estavam mais. 

Quando anunciaram os indicados para fotografia eu pensei que meu coração fosse explodir. Já não era mais uma jovem moçoila, não sei até onde agüentaria sem ter um colapso. Ok, talvez estivesse exagerando, mas estava muito nervosa. Tão nervosa que nem percebi quando falaram meu nome, com aquele sotaque que eu já conhecia bem, de anos e anos atrás: “And the Oscar goes to: E-na Flah-vea!” 

Quem me entregava a estatueta era Drew Barrymore. Na minha época uma simples atriz de comédias românticas, tinha se tornado uma das maiores estrelas de Hollywood de todos os tempos. Sempre gostei muito dela. “Parabéns, Ms Andrade! Sou uma grande fã do seu trabalho” ela disse em meu ouvido quando me entregou minha estatueta dourada, meu sonho dourado. Talvez fosse procedimento padrão dizer esse tipo de coisas, mas fiquei lisonjeada de verdade. 

Eu tremia na hora de agradecer. Chorei um pouco. Finalmente poderia usar aquele agradecimento que há tanto tempo planejava! “Não vou ficar aqui agradecendo milhares de pessoas que ninguém conhece. As pessoas que me ajudaram sabem quem elas são e sabem que eu serei eternamente grata e sabem também que eu vou agradecer a cada uma delas pessoalmente. Agradeço então a James Cameron, Kate Winslet, Leonardo DiCaprio e toda a equipe de Titanic. Quando eu assisti àquele filme aos 8 anos de idade no,  em inglês com legenda em Japonês, não entendi uma só palavra, mas assim mesmo o filme me tocou profundamente. Espero um dia poder fazer um filme que signifique tanto para alguém quanto Titanic significou para mim. Um filme que transcenda as barreiras lingüísticas e toque os corações das pessoas...”

Meu agradecimento estava começando a ficar longo. As pessoas aplaudiam frenéticas e a música que (nada) sutilmente cortava os discursos de agradecimento estava prestes a tocar, eu sabia disso. Mas em vez da música ouvi batidas secas. 

BUM! BUM! BUM! 

— Minha filha! Sai desse banho! Você ta aí há quase 40 minutos! Vai acabar com a água do planeta! 

Então coloquei o vidro amarelo-ouro-quase-dourado de shampoo na prateleira, desliguei o chuveiro e fui assistir Titanic.  

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