segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Plano do Amendoim

Era uma noite quente de verão. Cecília e Antônia olhavam a televisão e abanavam os mosquitos mais insistentes. Estavam largadas no sofá branco de couro da sala de televisão do segundo andar da casa de Cecília. Por mais que o sofá fosse confortável, o couro era irritante. Não faziam idéia do que passava na televisão. Sabiam que estava calor. A porta da varanda estava aberta bem atrás delas, mas quase não ventava. E quando ventava, era um vento tão quente que talvez fosse melhor que não ventasse.

Sentiam um pouco de fome. Resolveram descer até a dispensa para procurar algum petisco.

— Tônia, achei amendoim.

— Não gosto de amendoim.

— Nem eu, mas só tem isso.

Pegaram o pacotão de amendoins torrados. E realmente não acharam mais nada com potencial para petisco apetitoso. A mãe de Cecília tinha ido ao mercado com a mãe de Antônia. Tinham ido fazer compras pro churrasco do dia seguinte. A mãe de Cecília ia aproveitar pra fazer as compras do mês.

Nenhuma das duas gostava de amendoim torrado, mas gostavam do sal. Pegaram o pacote, dois potinhos e duas garrafinhas de 600 ml de Coca cola. Subiram as escadas.

Sentaram na frente da televisão, abriram o pacote de amendoins. Iam chupar o sal e jogar os amendoins fora. Mas tinham que esconder as evidências em algum lugar bem secreto. Lembraram da porta da varanda e do telhado logo depois. O telhado. Uma boa idéia. Tão boa quanto qualquer idéia que pudesse vir de pré-adolescentes entediadas no meio das férias de verão. Jogar o amendoim torrado, antes salgado e agora babado no telhado! Tão poético e genial que até rimava.

— Não tem erro, Cecília. A gente joga ali pela varanda, aí cai tudo no telhado.

— Há, genial! A gente ainda por cima vai acabar com o tédio.
E comeram, ou melhor, lamberam todos os amendoins. Mas o que elas não imaginavam era que o telhado era demasiado curto e elas eram exageradas na hora de arremessar os amendoins. Centenas e centenas de amendoins foram arremessados naquela noite. Se dezenas atingiram o telhado foi exagero.

Crec, crec, crec.

— Que isso? — era a mãe de Antônia.

— Que estranho, parece... — a mãe de Cecília.

— Ué, amendoim? — a mãe de Antônia se abaixou pra pegar um. —Amendoim torrado. Eca! E babado!

— CECÍLIA! ANTÔNIA! — um uníssono quase perfeito.

Cecília e Antônia finalmente arranjaram o que fazer naquela noite. Ficaram até tarde catando amendoins e varrendo a entrada da casa. Quanta diversão para aquela noite de verão!