segunda-feira, 30 de março de 2009

Penélope, Beto e Alice.

Aquele dia ia ser estranho, Penélope tinha certeza. Seria mesmo? Talvez estivesse imaginando coisas. Talvez. Mas costumava perceber quando alguma coisa estava diferente. Ai, não, estava deixando de ser sensível e se tornando uma tremenda obtusa.

Iam jantar. Os três. Ela e mais os dois. Tinha convidado umas cinco ou seis pessoas, mas só duas tinham confirmado presença, Alice e Beto. Já seria estranho o suficiente se fosse só isso, porque um dia, há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante, antes mesmo de conhecerem Alice, Penélope e Beto tinham um relacionamento (de certa forma) estável. Mas era pior. Depois de cinco anos e meio juntos, Alice e Beto já não estavam mais juntos havia pouco tempo, no máximo um mês. Ninguém sabia de verdade o que tinha acontecido, porque tinham terminado, quem tinha feito o que. Só se supunha. E parecia que a culpada de tudo em todas as suposições era Penélope. 

Penélope não sabia o que podia acontecer. Era tudo muito instável. Quem tinha dado aquela idéia idiota de sair pra jantar? Quem? Tinha sido... ela? Não... Será? Ela não deu essa idéia imbecil, deu? Ah, mas eles não podiam ter aceitado. Ou então, se aceitaram é porque nada está errado, né? Não sei... Talvez estivesse fazendo uma tempestade em copo d’água. Ela costumava fazer isso... 

Penélope não sabia o que fazer, então fez biscoitinhos de baunilha. Se tudo desse errado, pelo menos não ia ficar com fome, nem desconsolada, teria seus biscoitinhos quando voltasse pra casa. 

Um vento estranho soprava quando saiu. Um mau presságio. Só podia ser. Seu cabelo azul cobalto e seu vestido vermelho cereja eram soprados em todas as direções possíveis, ao mesmo tempo. Ainda mais isso. Droga de vida. Entrou no carro. Ligou o som. Música ia ajudar. “O que me importa/Seu carinho agora/Se é muito tarde/Para amar você...” Caramba! Essa música? Tá brincando? Era outro mau presságio, certamente. Desistiu da musica. Silêncio acalma a pessoa. 

Tã-tã-tã ta-tã-tã. O celular tocou. Olhou o identificador de chamadas. Alice. O que teria acontecido? Atendeu. Alô? O que? Não podia ir? A-há! Não podia falar, pediu só 1 minuto, estava dirigindo. 1 minuto? Ia era desligar logo. Tu-tu-tu-tu. Depois era só dizer que a ligação tinha caído. 

Como seria jantar só com Beto depois de tanto tempo? Puxa, seria constrangedor para os dois, isso é certo. Eles iam brigar, não... Bip-bop bip-bop. Mensagem de texto. Era Beto. Também não podia ir! Que pena, até a próxima, então.

Aquela noite Penélope foi jantar sozinha e feliz. Nem mesmo se preocupou se todos a observavam, coitada daquela mocinha ali, a que levou um bolo. Naquele momento deu adeus à sua necessidade constante de ter companhia. Foi o bolo mais delicioso de todos os tempos. Era de abacaxi.

terça-feira, 24 de março de 2009

Você Sabe Que

Você sabe que:

- está ficando velho quando deixa de receber convites dos seus coleguinhas pra festinhas no McDonald’s, hi-fis no salão de festas do prédio, bailes de debutantes e passa a receber os convites de casamento.

- está ficando realmente interessado em um tipo de arte quando se sente atraído por alguém sem nunca ter visto a pessoa, só a obra.

- está desinteressado em alguma coisa quando desliga daquilo e fica escrevendo trocentas páginas num bloquinho. [essa já era a 8ª página do dia]

- é um forasteiro em Brasília quando acha as pessoas frias e elas te acham desinteressante.

- está carente quando escreve pseudo-poemas de amor pra ninguém, porque na verdade não tem mesmo ninguém. 

- está realmente muito carente quando começa a achar todas as letras do Kid Abelha lindas de morrer.

Amor em 35mm

Eu sou o argumento.
Você, o roteiro. 
Eu sou a edição. 
Você, a montagem. 
Eu sou a fotografia. 
Você, a iluminação. 
Eu sou o som.
Você, a imagem. 
Eu sou a direção de atores. 
Você, a direção de arte. 
Eu sou produção executiva. 
Você, direção geral. 
Eu não existo sem você. 
Você não acontece sem mim.

Preciso deixar de ser tão carente, credo.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Coisas curiosas que a gente lê por aí

Hoje andando pela rua vi uma moça com uma blusa peculiar. Tinha o texto It’s all beack em grandes letras prateadas sobre uma blusa pretaMe pergunto: o que diabos tentaram dizer? Cheguei a algumas opções.

It’s all black: A camiseta era preta. Não era nenhum tipo de movimento negro contemporâneo. A moça não era nem morena.

It’s all back: O que está de volta? Os anos 80? Os anos 90? O Exterminador do Futuro? O mais legal é que a resposta é sim pras três perguntas.

It’s all beach: Tipo surfer style? Blusa preta. No meio do cerrado. Faz pouco sentido.

 Talvez seja uma campanha em defesa das aves. Ou das galinhas.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Tudo é diferente em Brasília

Outro dia enviei uma mensagem a três pessoas diferentes. As reações me levaram a pensar mais ainda em como tudo é tão diferente em Brasília.

Mensagem: 

Alguém quer ir ao cinema na sexta? Esse SMS é um oferecimento: Projeto Ana Não Vai Virar Brasiliense 2009.

Explico: Brasilienses fazem tudo sozinhos, são auto-suficientes. Eu estava ficando assim, mas resolvi me forçar chamar as pessoas, pra não ficar tão individualista assim.


As respostas foram interessantes:

Resposta #1: 

Hahuaha. Siiim. Me passa o lugar e a hr depois q eu estarei la =)

Resposta #2:

 Massa. Que filme?

Resposta #3: 

Depende do filme e horario.


Comentários deveras desprovidos de imparcialidade: (Para manter o anonimato dos sujeitos citados, serão chamados de Um, Dois e Três, respectivamente.)

Essas mensagens só servem como mais evidências para minha teoria de que brasilienses são frios, fechados e não apreciam qualquer tipo de humor que envolva uma piada sobre eles, a não ser que ela tenha sido feita por um deles. Às vezes nem assim. 

Um não é brasiliense, obviamente. Um respondeu de forma expansiva, alegre e parecia que a idéia de ir ao cinema era realmente empolgante. Mesmo que talvez não fosse, Um não fez com que tudo parecesse uma obrigação entediante.

Dois é semi-brasiliense, ou seja, não vive em Brasília desde sempre, mas sempre passou muito tempo na cidade. Dois deu uma resposta menos animada, mas de certa forma interessada. Dois é uma espécie de elemento de transição entre o calor não-brasiliense de Um e a frieza gélida e ártica de Três.

Três é totalmente brasiliense. É tão brasiliense que dá medo. Sua frieza é capaz de congelar até mesmo o calor dos 15º de latitude Sul dessa Brasília. Três dá uma resposta fria, seca e dura. Para os desavisados que viemos de fora, parece uma grosseria. “Talvez Três não queira ir a lugar nenhum comigo e me odeie” Pensa o pobre forasteiro. Mas não, Três é brasiliense e os brasilienses são assim mesmo. Demonstrações de afeto são diferentes em Brasília. Tudo é diferente em Brasília.

 

domingo, 8 de março de 2009

Coisas curiosas que a gente ouve por aí

Era uma sexta-feira à tarde. Tinha passado a manhã inteira e parte da tarde numa sala subterrânea na W3 Sul. Ainda ia passar mais umas duas horas por lá. Quando descia as escadas de metal mais inclinadas da história das escadas de metal, ouvi uma parte de uma conversa em que suponho, se falava de Quem Quer Ser um Milionário, de Danny Boyle, o grande ganhador dos Academy Awards desse ano. (Assisti ao filme esse fim de semana. É realmente excelente.):

- Ah, o filme ganha um monte de Oscars, tipo, é o melhor cenário, melhor roupa, melhor roteiro... Mas o que que adianta se a história é uma bosta?!

Alguém me diz como é que o filme ganha o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado se "a história é uma bosta"? 

Ah, droga, acho que estou me tornando uma estudante de cinema pedante e chatinha...