terça-feira, 20 de outubro de 2009

Uma carta

Ana Lia. Esse era o seu nome. Pelo menos no papel. Ninguém a chamava assim. Dificilmente atenderia se alguém chamasse pelos dois nomes, ou só por Lia. Era Ana. Aninha. Mas hoje, especificamente hoje, quando chamassem Ana Lia não teria menor dúvida de seria ela a quem chamavam.

E chamaram. Seu coração parecia a Bateria-nota-dez do Salgueiro. Estava indiscutivelmente nervosa, mas a alegria abafava qualquer outro sentimento que ameaçasse surgir. Um sorriso estampava seu rosto de um lado ao outro. Duvidava que alguém tivesse alguma vez aberto um sorriso tão fabuloso quanto aquele.

Lá da frente viu sua família. Estavam radiantes. No rosto de seu pai via um misto de alegria e melancolia. Saudades daquela garotinha que acabava de começar a escola, mas um orgulho tremendo. Sua mãe parecia emocionada e seu rosto se iluminava como se naquele momento sua vida fizesse um pouco mais de sentido. Seu irmão do meio sorria o mais lindo dos sorrisos. Podia ver o quanto se orgulhava da sua irmã mais velha. Seu irmão mais novo era inda muito pequeno para entender tudo que estava acontecendo e ainda tentava insistentemente mostrar sua idade com os dedos a todos que estavam sentados perto dele. Ele se divertia e isso era o mais importante.

Viu sua segunda família mais atrás. Era o time de Pólo Aquático. Tinham sido como parte de sua família há quase quatro anos. Amava aquelas pessoas. Elas também a amavam muito. Entre seus irmãos-atletas estava Ana Alice, a quem todos chamavam simplesmente de Alice.

Chamar o nome “Ana” no ambiente do Pólo Aquático era quase que como instaurar um pequeno caos. Anas representavam uma significante fatia da população daquele time. Ao todo eram três: Ana Lia, Ana Alice e Ana Lúcia.

Ana Lia não sabia, mas Ana Alice via nela um modelo, uma inspiração. Se algum dia conseguisse ser uma Ana Alice metade da Ana que era Ana Lia, seria feliz. Alice via em Aninha uma espécie de personificação do altruísmo. Via uma pessoa doce, gentil e extremamente amável.

Apesar de estudarem áreas totalmente diferentes, Alice sabia que se tivesse tanto amor pela sua futura profissão quanto Aninha tinha pela sua, ela seria tão competente e bem sucedida quanto tinha certeza que Aninha seria. Aquele dia Ana Alice viu toda a felicidade estampada no rosto de Ana Lia e se sentiu feliz também. Mesmo que Aninha não soubesse, ela representava uma espécie de prima ou irmã mais velha para Alice. A prima ou irmã que ela nunca tinha tido.

Alice sabia o quanto Aninha tinha se esforçado. Sabia o quanto aquilo era importante e o quanto sua amiga era capaz. Era competente e dedicada. Que teria sucesso era inquestionável. Era reconfortante saber que havia pessoas como Aninha no mundo. Trazia uma esperança para os corações mais inquietos, como era o de Ana Alice.

Ana Alice gostaria de dizer a Ana Lia tudo o que pensava, mas não consegue falar as coisas para as pessoas. Em vez disso escreve. Escreveu, então. Entregou a Aninha um grande envelope amarelo.


Frases

Lá. Onde é lá? Lá pra mim é aqui pra você. Mas talvez seja lá também. Não sei.

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No final dos anos 90, há uns 10 ou 12 anos blá blá blá blá.... — disse o professor.
Caramba. O fim dos anos 90 foi há 10 anos atrás. Faz muito tempo. Ainda não absorvi isso. Sempre esqueço que 1990 foi há quase 20 anos atrás, o que significa que eu sou de quase 20 anos atrás. Credo.

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É engraçado como algumas pessoas conseguem escrever letras de música tão bonitas. Tipo: “I can’t seem to catch my breath/It’s in front of me/Behind your lips”. Essa música é tão bonitinha… Mas, puxa, que coisa mais besta de se anotar…

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Sinto saudades de muita gente e isso me irrita.