Naquele momento Penélope voava. Não gostava de voar. Não porque tivesse medo, mas porque era desconfortável e incômodo.
Tentou dormir uma vez. A passageira da poltrona ao lado, que precisava chegar à sua poltrona, tornou sua tentativa frustrada.
Tentou outra vez, mas o comissário teve que chamar sua atenção porque a porcaria da alça da mochila estava no corredor e não abaixo do assento à sua frente:
- Senhora, a alça da mochila...
- Colega! Senhora?! - Só pensou. Não falou nada. Queria dormir.
Mais uma vez tentou dormir. Antes abaixou para pegar música na mochila. Nesse exato instante a iluminada criatura do banco 4D, em frente ao seu, resolveu reclinar a poltrona. A mesinha se soltou e acertou sua cabeça. Doeu. Logo se recompos e reclinou sua poltrona, torcendo para que acertasse também a cabeça de alguém.
Tentou ainda mais uma vez e dessa vez dormiu. Sua cabeça, no entanto, pendeu para o lado do corredor. Estava começando a sonhar.
Estava acompanhada de quatro pessoas. Conversavam ao redor de uma mesa, tomavam sorvete de peixe e bebiam suco de laranja em copos do tamanho de baldes. Sonhos são estranhos. Nunca soube onde aquele a levaria.
Alguém com educação pequena e uma bolsa grande passou pelo corredor e acertou sua testa. Em cheio. Penélope acordou atordoada.
O carrinho com "lanche" já passava. Estava já na fileira 3.
- Pepsi, guaraná, suco de laranja, pêssego ou goiaba light? Barrinha de coco, castanha ou frutas?
- Não tem comida? - De novo, só pensou.
O cheiro de guaraná invadia a cabine, mas mesmo assim pediu Pepsi. Era contra suas regras "tomar refrigerante antes do meio dia e/ou em dias de semana", mas naquele momento, às 8h45 da manhã de quinta-feira, isso não era importante.
Desistiu de dormir, encheu a cara de refrigerante e foi escrever.