segunda-feira, 22 de setembro de 2008

“Por toda a Plataforma, você não vê a Torre.”

Era uma tarde de quinta-feira. Ia do Conjunto Nacional para a Rodoviária. Antes de atravessar a rua, três vendedores ambulantes com suas barraquinhas vendiam a mesma coisa:
— DVD, DVD, DVD, DVD, DVD!
— DVD, DVD, ó o DVD!
— Mais barato, DVD!
Esperando para recepcionar as pessoas que chegavam à Rodoviária estavam dois homens que bradavam incessantemente:
— Ó o vale! Ó o vale!
— Vale? Vale?
Não comprei nenhum vale. Pago o ônibus com dinheiro.
Continuei meu caminho. Ouvi meia frase de meia conversa.
— ... é o que?
Ao longe, lá em baixo no embarque, soava algo que parecia aquele alarme que sempre toca quando os ônibus dão ré.
“Bi bi bi bi b...”
No caminho para as escadas alguém varria o chão.
“Schq, schq, schq”
Uma senhora sentada à beira das escadas pedia dinheiro e sacudia sua tigelinha verde que já tinha umas poucas moedas.
— Dinheirinho? “Tlish, tlish”
Ao descer as escadas, possivelmente as mais inclinadas que já desci, ouvi meus próprios passos e os das outras pessoas que subiam e desciam sem parar e ao mesmo tempo soou o que se parecia com um sino. Olhei em volta e não encontrei o sino. A união dos passos e do possível sino formou um som ritmado e com um pouco de esforço quase musical.
“Tep, bléin, bléin, tep, bléin, tep, tep”
Ao chegar à zona de embarque, vi outro ônibus que dava ré. A campainha desse soava um pouco diferente da anterior.
“Pi pi pi pi pi”
Continuei andando. Segui para a área dos circulares, aqueles ônibus azuis. Um deles, que passava por trás dos demais, freou.
“Scriiiiiich”
Um som de sirene às minhas costas. Virei-me, mas não identifiquei a fonte.
“Ióóóóón”
Não encontrei meu ônibus, então dei a volta para o outro lado, para procurar o ônibus da minha amiga. Ao contornar um quiosque de lanches ouvi partes das conversas.
— E aê?
— Foi mesmo?
— Ué, foi!
— Falou, véi!
— ... e um suco!
“Plu plu”, eram duas colheradas de açúcar no tal suco.
Percebi a quantidade de vozes que falavam ao mesmo tempo. Não dava para separar umas das outras. Quanto mais eu tentava, mais elas se misturavam e tudo que eu ouvia era:
— Blablablablablablabla...
Um homem, de pé ao lado de uma banca, gritava:
— Lago Sul! Lago Sul! Lago Sul! Lago Sul, moça?
Uma mulher arrastando uma criança pela mão corria e apressava seu filho.
— Vamo! Vamo! Anda Logo!
Outra pessoa gritava um pouco mais à frente.
— Ó o ônibus lá! Cooorreee!
Nessa hora paramos em frente a um ônibus e ouvi:
— O meu ônibus, Ana.
Era minha amiga. Me despedi.
— Tchau. Até segunda.
— Tchau!
O ônibus dela foi embora.
“Vrrrrrrrr” “Pffff”.
Eu desisti do meu ônibus e atravessei a rua. Decidi assistir a um filme no Museu Nacional.


Texto escrito originalmente para a disciplina "O Documentário" na Universidade.

2 comentários:

  1. olá!!!
    O seu texto da rodoviária ficou melhor que o meu... Tem mais conteúdo. Você deve ter ficado um bom tempo na Rodoviária.
    O meu ficou confuso... Principalmente na parte que eu tento descrevê-la. Eu já tinha dito que eu sou horrível em descrições espaciais. O professor que se vire!!!
    haiuhaiuahiah
    Mas então... é legal ter um blog. Mesmo que seja só pra escrever bobagens. Não é? Eu, particularmente, gosto.
    Enfim... não sei mais o que dizer, então...
    tchau!

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