quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O conceito de -53ºC não faz sentido

Era uma linda tarde de Sol de fevereiro. 16h30, Winnipeg. Desci do ônibus e caminhei civilizadamente por alguns metros. De repente eu já andava pela rua o mais rápido que podia. Não estava atrasada, não tinha medo, não fugia de ninguém. Mas eu corria. E ao correr ouvia meus passos no chão não fazerem barulho de passos simples no chão. Não era o barulho seco de passos no concreto, não soavam macios como passos na grama. Mas soavam em alto volume. Rangiam como só passos na neve rangem.

Lágrimas escorriam dos meus olhos. Eu não chorava, não ria, mas meus olhos lacrimejavam. Tinha pensado antes de correr, porque dependendo de onde viesse o vento, correr poderia ser minha pior ação. O vento vinhas das minhas costas. Correria então, porque assim diminuiria a intensidade do vendaval gelado. Suspeitava que isso não fizesse sentido nenhum, mas a idéia de driblar as forças da natureza me fazia rir, então resolvi manter o plano e correr.

Ia correr do ponto de ônibus até minha casa. A distância era curta, no máximo uns 500 metros, mas aquele frio fazia tudo mais difícil. Naquela tarde o maldito vento subtraía 7ºC da já absurda temperatura de -46ºC. O conceito de -53ºC não fazia sentido. Só consegui pensar naquela música do Randy Bachman e do Neil Young, “Portage and Main fifty below”. Eu não estava bem em Portage and Main. Estava bem longe disso, all the way in Lindenwoods, mas a coisa do fifty below ainda fazia sentido.

Então eu corri. Lindenwood Dr. East, Farmingdale, Fairhaven, Westchester Drive, 290!

Quando digitava o código da garagem pensei que nunca mais ia parar de sentir aquele frio, mas quando entrei em casa vi que Syd e Tom assistiam um documentário sobre o calor no deserto do Saara e eu decidi que aquele parecia um bom dia pra tomar sorvete de creme com framboesas congeladas.

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